Por Marcus Martins
Em 2023, o Ponto de Cultura Casa de Teatro, de Conselheiro Lafaiete, MG, apresentou no Nepopó a peça “O menino e a árvore”, baseada no conto de Shel Silverstein, com tradução de Fernando Sabino. O espetáculo, dirigido e adaptado por Geraldo Lafayette, trouxe a história de um garoto que amava brincar com sua amiga árvore. À medida que ia crescendo, compartilhava com ela suas ambições. E ela, visando a felicidade do amigo, doava partes de si para que ele realizasse seus sonhos. Por fim, a árvore é quase toda consumida.
A fábula, que encantou o público são-joanense no festival, terminava com uma centelha de esperança. O menino (agora velho) usaria sementes que ganhara da amiga para plantar um novo futuro. No entanto, a mensagem principal da peça é a generosidade da árvore. E esta também era uma característica marcante do diretor do espetáculo. Fora dos palcos, Geraldo Lafayette sempre compartilhava o melhor de si, sem distinções. Emprestava conhecimentos, conselhos, textos e amizade a quem precisasse.
Há pouco mais de uma semana, formamos uma comitiva do Nepopó para participar do Face (Festival de Artes Cênicas de Conselheiro Lafaiete), que tinha Geraldo como liderança. Mas a “árvore” não estava mais lá. Geraldo Lafayette partiu em junho. Uma legião de “meninos” do teatro, amizades enraizadas por vários cantos do Brasil, não puderam ser acolhidos por sua sombra. No lugar dela, encontramos sua equipe, segurando firme para manter o festival como ele acreditava, deixando para se desabar em choro no pós-evento. Eram olhos cansados de trabalhar, vigiar e de esconder as lágrimas que insistiam em minar, traindo o combinado. Tudo lembrava Geraldo. E ele parecia que ia surgir a qualquer momento.
O evento foi lindo. Emocionante e inesquecível. As sementes que Geraldo distribuiu em vida brotaram no coração de todos que se doaram para o Face acontecer. Geraldo agora é floresta no peito de quem acredita nos festivais de teatro amador, realizados para toda a gente. Com toda a gente. Geraldo é teatro de portas abertas. O Face entendeu bem o recado e inspira nossos festivais a seguir por este caminho.
Marcus Martins
Espectador de teatro, além de coordenador de comunicação e produtor executivo do Nepopó. Entre aquarelas, fotografias e escritas, encontra um intervalo para produzir o festival e jura de pé junto que não voltará a atuar.
