Tem criança no júri do Nepopó!
Por Marcus Martins
Primeiro, uma correção. No lugar de “criança”, leia-se “jovem”. (Se eu chamar um garoto ou uma garota de 12 anos de criança, corro o risco de ter meu artigo cancelado por haters juvenis.) Mas, sim, no Nepopó temos um júri formado por jovens de até 14 anos. Chamamos – prudentemente – de Júri Mirim.
A ideia surgiu do casal Aldo Philadelfia, coordenador geral do evento, e Kelly Louzada, atual coordenadora de equipe. É uma daquelas sacadas que só podem nascer de cabeças que vivem e respiram um festival de teatro com muito afeto e sensibilidade. Quando nos apresentaram a ideia em reunião, nem foi preciso discutir. Foi amor à primeira vista. E a ideia vingou!
Desde a 14ª edição, contamos com esse júri especial, formado por estudantes dos anos finais do ensino fundamental, que avaliam, em paralelo aos jurados adultos, os espetáculos da categoria infantil. O prêmio não poderia ser mais gostoso: uma cesta de chocolates.
Mas engana-se quem acha que tudo é doçura entre esses julgadores. Quem acompanha os jovens percebe o quanto eles se dedicam. Fazem críticas contundentes e estão atentos a tudo. Tem menino (perdão, jovem) que escreve até redação para justificar sua escolha. “Me dá mais folha?” é um pedido recorrente. “Isso não é peça infantil”, comenta outro.
E talvez aí esteja o problema de alguns espetáculos: ignorar seu próprio público e insistir em contar histórias que ninguém quer ouvir, ainda mais em um teatro que disputa a atenção com as luzes dos smartphones – às vezes, durante a peça.
Quando eu era jurado no festival, ao avaliar um espetáculo infantil, sempre assistia também às crianças. A interação – ou a falta dela – já me adiantava alguns passos no julgamento. Porque teatro infantil só é infantil quando conversa com o imaginário das crianças e convida os jovens a amadurecerem seu senso crítico.
Assim, o Júri Mirim é o nosso exercício insistente na formação de público – uma esperança. Ouvir sua voz é urgente!
Marcus Martins
Espectador de teatro, além de coordenador de comunicação e produtor executivo do Nepopó. Entre aquarelas, fotografias e escritas, encontra um intervalo para produzir o festival e jura de pé junto que não voltará a atuar.
