17º Festival Nepopó - DE 19 a 22 de junho de 2025

Marcus Martins | Como é feito um festival de teatro?

Em sua coluna, Marcus Martins relata os desafios de organizar um festival de teatro e compartilha a experiência da equipe do Nepopó. Vem ler!
Nepopó 2016 / Foto: Marcus Martins

Como é feito um festival de teatro?

Por Marcus Martins

Se você veio em busca de uma resposta direta e definitiva, perdeu seu tempo 😁. Não há fórmula mágica, e estamos longe de ser um festival perfeito, pronto para servir de manual. Isso porque festivais são feitos com gente e para gente – e, como tal, estão sempre sujeitos a erros, novas demandas e aprendizados constantes.

Por isso, é fundamental viver os festivais. Visite o Fetuba, o Face, o Nepopó, o Fenta e todos que puder. Converse com as pessoas, participe das atividades, coma a comida servida nos alojamentos, abrace os participantes e respire a poesia (a prosa também) que cada festival carrega. E entenda: cada um é único e especial. Portanto, não tente copiar! Compreenda sua cidade, as necessidades locais e peça ajuda aos colegas dos outros eventos.

No Nepopó, tínhamos a mania de achar que já havíamos encontrado uma “fórmula”. São João Nepomuceno tem um centro acolhedor para um festival. Em geral, muitos conhecidos já comparecem – basta lançar o edital e ver a mágica acontecer. Tínhamos aquela ideia de que todo mundo era “de casa”, afinal, a cidade sabe receber.

Mas, ao longo dos anos, aprendemos que as pessoas mudam, e o festival recebe outras pessoas, com novos anseios. Tenho o costume de pedir a alguns dos meus convidados (e olheiros) que, ao final do evento, façam uma lista com pontos positivos e negativos do festival (mania de profissional de marketing que analisa tudo com uma SWOT).

Certa vez, recebi de um amigo um papelzinho pequeno, com uma letrinha miúda. Parecia até bilhete de namorados, em tamanho ideal para passar para a outra mão sem ninguém ver. Li e, até hoje, guardo esse papel nos arquivos do Nepopó. Entre os pontos negativos, um deles me surpreendeu: “recepção”.

Pensei: como assim? Tá louco? A gente é super receptivo! Mas não para ele, que vinha ao festival pela primeira vez e nunca havia pisado na cidade. Felizmente, nossa cultura de hospitalidade garantiu que ele não ficasse sozinho e fizesse grandes amigos. Mas, de fato, falhamos com ele—e isso nos fez perceber que seguir cegamente uma cartilha pode ser um erro.

Desde então, nos preocupamos mais com a chegada dos profissionais de teatro e convidados. Passamos a refletir sobre o que é dito às pessoas que vêm nos assistir. Antes da realização do último festival, Kelly Louzada, nossa atual coordenadora de equipe e, na época, responsável pelo júri mirim, levantou uma questão:

— Por que não oferecemos refeição desde o primeiro dia?

A resposta era simples: porque ninguém havia pensado em sair do automático. Foi mais um aprendizado: a “cartilha” precisa ser renovada a cada ano. Mais do que um guia de regras, ela deve ser um manual sobre como lidar com as adversidades de um evento com mais de 200 pessoas, baseado na experiência.

Com isso em mente, seguimos aprendendo todos os dias—sobretudo, observando os erros. Não há um jeito certo de fazer um festival de teatro. O nosso, fica aqui a dica, é: fazer, fazer e fazer. E fazer com olhos e ouvidos atentos!

Marcus Martins
Espectador de teatro, além de coordenador de comunicação e produtor executivo do Nepopó. Entre aquarelas, fotografias e escritas, encontra um intervalo para produzir o festival e jura de pé junto que não voltará a atuar.